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A SÍNDROME DE BURNOUT COMO CONSEQUÊNCIA DOS PLANOS DE APOSENTADORIA
Por Hilda Morana

Cerca de 50% da receita da Previdência é gasto com pagamento de licenças médicas a pessoas com Transtornos mentais. Depressão é uma das causas mais freqüentes de afastamento por licenças médicas.

Entre as várias causas de sintomatologia depressiva esta a já famosa SÍNDROME DE BURNOUT. Nesta, a sintomatologia é grave, na qual o indivíduo experimenta um estado de profunda exaustão e desmotivação, com sintomatologia variável, geralmente com poliqueixas, não sabendo explicar-se de forma clara o que sente, até alcançar a incapacidade, por vezes definitiva, de trabalhar. A depressão já é uma condição que as pessoas têm dificuldades de entender. Seus conhecidos, amigos, colegas e parentes, e até mesmo peritos, muitas vezes acham que o sujeito tem preguiça de trabalhar. Com a síndrome de esgotamento profissional isto tudo é ainda mais evidente. A síndrome do esgotamento profissional ou burnout foi inicialmente categorizada como uma questão de cunho social, o que tem a sua razão de ser conforme se verifica nos exemplos a seguir. Casos típicos são o das professoras que não mais toleram o trabalho com crianças. Muitas vezes sofreram desacato por parte de alunos e pais de alunos. Outras vezes foram assaltadas na porta da escola ou no caminho. Brigas com a diretoria também são bastante freqüente. Queixam-se de terem se tornado incapazes de manter a disciplina de uma classe. Segundo pesquisa feita com 52 mil professores de 1.440 escolas de todo o País, a Síndrome de Burnout atinge ao redor de 48% dos educadores. Outra condição freqüente é a dos policiais ou investigadores de polícia que depois de um tempo na profissão percebem que nada podem fazer para melhorar o trabalho na corporação. Nada do que fizerem vai fazer alguma diferença. Assistem a constantes injustiças por parte de privilegiados dos superiores. Cansam! O mesmo acontece com os carcereiros que sofreram agressões em rebeliões. A síndrome ocorre também com oficiais de justiça, com funcionários de tribunais e cartórios e vários outros. Estes se queixam de reações ansiosas como tremores, taquicardia, sensações de desmaio simplesmente ao entrarem em suas repartições. A síndrome atinge qualquer nível ou tipo de profissional. A perda da influência e do respeito profissional no trabalho é um importante fator desencadeante da síndrome O fato é que a pessoa sabe que pode contribuir muito e não consegue mais por estar sendo tolhida na sua capacidade o que é para o ser humano uma grande e importante frustração que acarreta uma desestruturação emocional considerável. Diretores de hospitais médicos se queixam que os colegas não se empenham no exercício de suas funções. O que está acontecendo? Uma das causas é a de que os jovens estão em busca de dinheiro rápido e, aqueles que estão para se aposentar, não agüentam mais as condições do trabalho. No Funcionalismo Público as causas são diferentes do que nas empresas privadas. Na empresa privada, cargas maiores de trabalho, prazos apertados, competitividade acirrada e, principalmente, relações conflituosas colaboram para o aumento do estresse ocupacional. No Funcionalismo Público é a certeza que nada vai mudar, só piorar, seja em relação ao salário ou às possibilidades de poder produzir algum resultado eficaz com seu esforço. Mas, se computarmos a idade versus tempo de serviço no Funcionalismo Público verifica-se, que a maioria das licenças e aposentadorias por invalidez no setor da psiquiatria ocorre com pessoas com a idade acima de 50 anos e 25 anos de serviço. Antes, poderiam estar optando por uma aposentadoria proporcional. Agora não mais. O governo faz tabelas de progressão, aumenta cada vez mais a idade da aposentadoria e gasta cada vez mais em licenças médicas e aposentadorias por invalidez. É negócio?

Hilda Morana
- Presidente do Departamento de Psiquiatria da Associação Paulista de Medicina.
- Vice-coordenadora da Diretoria do Departamento de Ética e Psiquiatria Legal da Associação Brasileira de Psiquiatria.
- Secretária da Diretoria do Departamento de Informática da Associação Brasileira de Psiquiatria.

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