UNIVERSO DA MENTE...

COMENTÁRIO INTRODUTIVO: “Onde há fumaça há fogo”… diz o ditado. ‘O Código Da Vinci’, sucesso mundial de Dan Brown, acendeu a ira de ramos da Igreja por revelar aspectos sombrios de seus bastidores e fatos há séculos ocultados aos fiéis, como a destruição e modificações de antigos evangelhos para a sua versão latina do Novo Testamento -, que obedeceu a interesses de caráter político-doutrinários de Constantino, avalizados nos Concílios de Nicéia (325 d.C.) e de Constantinopla (553 d.C.).

E transcreveremos excertos desse livro, capítulos 55 e 56, que podem interessar aos que apreciam conhecer um pouco mais sobre cristianismo histórico e simbologia, para tirar suas próprias conclusões.[Cf. ‘Ver e Saber Por Si Mesmos‘].

Na verdade e a nosso ver, embora existam equívocos, como a prática ocultista de sexo entre mestre e sacerdotisa (desvirtuada de as bodas sagradas entre Alma e Espírito); o rol de mestres do fictício ‘Priorado de Sion’; e personificar Maria Madalena como recipiente do Graal -; tudo isso não tira o mérito e a seriedade das pesquisas diretas do autor em fontes consideradas de boa fé -, Bibliotecas em Paris, Londres e Roma -, como você pode ver no DVD, ‘Desmascarando o Código Da Vinci’ (Top Tape, Abril).

Entre os mestres, ressalvamos o nome de Valentin Andréa, publicador de ‘O Casamento Alquímico de Cristão Rosacruz’, no séc. XVII. Andréa foi pastor luterano na região de Calw-Alemanha e rosacruz clássico. E, em 1980, adentramos uma das capelas em que pregava e vimos de perto um antigo painel à direita do púlpito, representando o caminho ascendente de ‘a longuissima via’ ; por trás dessa pintura há um secreto afresco do ensino iniciático cristão…



SANTO GRAAL: Simboliza o sagrado trabalho de oblação dos obreiros da Fraternidade da Luz, que atua nos três mundos, o do Espírito, da Alma e do Físico, em prol da libertação de toda a humanidade; esse tríplice cosmos coexiste dentro do microcosmo humano. [Cf. Evangelho da Pistis Sophia – O Mito de Sophia].

Através dos tempos, esse sublime corpo de Obreiros da Luz tem recebido diferentes nomes: Fraternidade de Shamballa, Ordem de Melquisedec, Escola dos Mistérios. Mas desde a era passada, é conhecida como Fraternidade de Cristo, Corpo Crístico e Fraternidade do Santo Graal; e, nos meados do milênio sob sua égide, surgiu na Europa a tríplice aliança templária - Graal, Cátaros e Rosacruz.

Paulo, após sua iniciação no Caminho de Damasco, dá testemunho da unidade desse Corpo Vivente, Universal (que abarca o mundo e a humanidade) , e não de algum corpo morto, ao dizer: ‘Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse Corpo’. (I Carta aos Coríntios, 12:27).

Triplicidade e quaternidade, pirâmide e pentagrama, flor de lótus, ankh, a cruz e a rosa, triângulo e números sagrados, são símbolos universais desse Corpo da Luz. E ‘as forças espirituais do mal’, sabendo disso, lutam para imitá-los em seus rótulos mágicos para atrair aos incautos. E como discerni-las? - Eis uma chave bíblica: ‘Pelos seus frutos os conhecereis’. (Mateus, 7:16).


Campos de Raphael



O CÓDIGO DA VINCI - ‘O QUE É O SANTO GRAAL?’

[Diálogos entre Sir Teabing, Sophie e Langdon- cap.55 e 56]



[Sentada no divã diante de Robert Langdon (professor de simbologia), a detetive Sophie Neveau bebia chá, comendo bolinhos, sentindo os efeitos da cafeína e da comida na mansão de Sir Leigh Teabing, que sorria radiante, dando desajeitados passos de um lado para o outro diante da lareira].

- O Santo Graal – explicou Teabing, a voz de quem faz um sermão. – A maioria das pessoas me pergunta onde ele está. Receio que seja uma pergunta a que jamais possa responder. – Ele se virou e encarou Sophie.- Contudo… a pergunta bem mais relevante aqui seria: O que é o Santo Graal?

Sophie percebeu um clima crescente de expectativa acadêmica da parte de ambos os homens.


- Para entender bem o Santo Graal - continuou Teabing - precisamos entender a Bíblia. Até que ponto conhece o Novo Testamento? - (Sophie deu de ombros).

- Não entendo nada, para dizer a verdade.Fui criada por um homem que reverenciava Leonardo DaVinci.

Teabing pareceu ao mesmo tempo sobressaltado e feliz. - Uma alma iluminada. Fantástico! Então deve saber que Leonardo era um dos guardiães do Santo Graal. E escondia as pistas em sua arte.

- Robert contou-me isso, sim.

- E as opiniões de Da Vinci sobre o Novo Testamento?

- Não faço idéia.

Os olhos de Teabing ficaram risonhos ao atravessar a sala em direção à estante. - Robert, poderia me ajudar? Na prateleira de baixo ‘La Storia di Leonardo‘.

Langdon atravessou a sala também, encontrou um grande livro de arte e o trouxe, colocando-o na mesa e o livro para deixá-lo de frente para Sophie. Teabing abriu a pesada capa e apontou para uma série de citações no fim do livro.

- Do caderno de Da Vinci sobre polêmica e especulação – disse Teabing, indicando uma citação específica. – Acho que vai considerar isso importante para nossa conversa.

Sophie leu as palavras: ‘Muitos fizeram comércio de ilusões / e falsos milagres, enganando os ignorantes’. Leonardo Da Vinci.

- Olhe mais aqui – disse Teabing, apontando para outra citação. ‘Cegante ignorância nos ilude. / Ó miseráveis mortais, abri os olhos!’ Leonardo Da Vinci. (Sophie sentiu um ligeiro arrepio).

- Os sentimentos de Leonardo sobre a Bíblia se relacionam diretamente com o Santo Graal. Aliás, Da Vinci pintou o verdadeiro Graal, que vou lhe mostrar daqui a pouco, mas primeiro vamos falar da Bíblia. Teabing sorriu. E tudo que você precisa saber sobre a Bíblia pode se resumir no que diz o grande doutor canônico Martyn Percy. Teabing pigarreou e declarou: - A Bíblia não chegou por fax do céu.

-Como disse?

- A Bíblia é um produto do homem, minha querida. Não de Deus. A Bíblia não caiu magicamente das nuvens. O homem a criou como relato histórico de uma época conturbada, e ela se desenvolveu através de incontáveis traduções, acréscimos e revisões. A história jamais teve uma versão definitiva do livro.

- Oh, sim.

- Jesus Cristo foi uma figura histórica de influência incrível, talvez o mais enigmático e inspirador líder que o mundo já teve. Como o Messias profetizado, derrubou reis, inspirou multidões e fundou novas filosofias. Como descendente do rei Salomão e do rei Davi, Jesus teria direito de reclamar o trono de Rei dos Judeus. Não é de admirar que sua vida tenha sido registrada por milhares de seguidores em toda a região.

Teabing parou para tomar um gole de chá e depois colocou a xícara de volta sobre o consolo. - Mais de 80 evangelhos foram estudados para compor o Novo Testamento, e, no entanto apenas alguns foram escolhidos – Mateus, Marcos, Lucas e João.

- E quem escolheu esses evangelhos? – indagou Sophie.

- Aí é que está! – exclamou Teabing, cheio de entusiasmo. - A ironia fundamental da cristandade! A Bíblia, conforme a conhecemos hoje, foi uma colagem composta pelo imperador romano Constantino, o Grande.

- Pensei que Constantino fosse cristão – disse Sophie.

- Que nada! Foi pagão a vida inteira, batizado apenas na hora da morte, fraco demais para protestar. Na época de Constantino, a religião oficial de Roma era o culto de adoração ao Sol – o culto do Sol Invictus, ou do Sol Invencível -, e Constantino era o sumo sacerdote!

Infelizmente para ele, Roma estava passando por uma revolução religiosa cada vez mais intensa. Três séculos depois da crucificação de Cristo, seus seguidores haviam se multiplicado exponencialmente. Cristãos e pagãos começaram a lutar entre si; e o conflito chegou a proporções tais que ameaçou dividir Roma ao meio. Constantino viu que precisava tomar uma atitude. Em 325 d.C. ele resolveu unificar Roma sob uma única religião: o cristianismo.

Sophie surpreendeu-se: - Mas por que um imperador pagão iria escolher o cristianismo como religião oficial?

Teabing soltou uma risadinha irônica. - Constantino era bom negociador. Enxergou a ascensão do cristianismo e simplesmente apostou no cavalo que estava vencendo. Os historiadores ainda se maravilham ante a eficiência demonstrada por Constantino ao converter os pagãos adoradores do Sol em cristãos. Fundindo símbolos, datas, rituais pagãos com a tradição cristã em ascensão, ele gerou uma espécie de religião híbrida aceitável para ambas as partes.

- Sincretismo – explicou Langdon. – Os vestígios da religião pagã na simbologia cristã são inegáveis. Os discos solares egípcios tornaram-se as auréolas dos santos católicos. Os pictogramas de Ísis dando o seio a seu filho Hórus milagrosamente concebido, tornaram-se a base para nossas modernas imagens da Virgem Maria com o Menino Jesus no colo. E praticamente todos os elementos do ritual católico – a mitra, o altar, a doxologia [fórmula litúrgica de louvor a Deus] e a comunhão, o ato de ‘comer Deus’, por assim dizer – foram diretamente copiados de religiões pagãs místicas mais antigas.

Teabing resmungou. - Nem existe um simbologista que seja especializado em símbolos cristãos. Nada é original no cristianismo. O Deus pré-cristão Mitra – chamado o Filho de Deus e a Luz do Mundo – nasceu no dia 25 de dezembro, morreu e foi enterrado em um sepulcro de pedra e depois ressuscitou em três dias. Aliás, o dia 25 de dezembro é também o dia de celebrar o nascimento de Osíris, Adônis e Dioniso. O recém-nascido Krishna recebeu ouro, incenso e mirra. Até mesmo o dia semanal dos cristãos foi roubado dos pagãos.

- Como assim?

- Originalmente, a cristandade celebrava o sabá judeu no sábado, mas Constantino mudou isso de modo que a celebração coincidisse com o dia em que os pagãos veneram o Sol… Até hoje, a maioria dos fiéis vai a igreja na manhã de domingo sem fazer a menor idéia de que estão ali para pagar tributo semanal ao deus Sol, e por isso em inglês o domingo é chamado de Sunday, “dia do Sol”.

A cabeça de Sophie estava dando voltas. - E tudo isso diz respeito ao Graal?

- Exato – disse Teabing. - Preste atenção. Durante essa fusão de religiões, Constantino precisou reforçar a nova tradição cristã, e para isso promoveu a famosa reunião ecumênica conhecida como Concílio de Nicéia [325 d.C.].

Sophie havia ouvido falar nele, mas apenas como o lugar onde se originou o Credo de Nicéia.

- Nesse concílio, muitos aspectos do cristianismo foram debatidos e receberam votação – a data da Páscoa, o papel dos bispos e administração dos sacramentos, além naturalmente da divindade de Jesus.

- Não entendi. A divindade dele?

- Minha cara- - declarou Teabing -, até aquele momento da história, Jesus era visto pelos seus discípulos como um mero profeta mortal… um grande e poderoso homem, que não passava de um homem. Um mortal.

- Não era o Filho de Deus?

- Isso. Jesus só passou a ser visto como “Filho de Deus” no Concílio de Nicéia, depois que esse título foi proposto e aprovado por votação.

- Espere aí. Está dizendo que a divindade de Jesus foi resultado de uma votação?

- E um resultado meio apertado, por sinal. – acrescentou Teabing. - Porém, declarar que Jesus tinha origem divina era fundamental para a posterior unificação do Império Romano e para lançar as bases do novo poderio do Vaticano. Com firmando oficialmente Jesus como o Filho de Deus, Constantino transformou Jesus em uma divindade que existia além do alcance do mundo humano, uma entidade cujo poder era incontestável. Isso não só evitava contestações pagãs à cristandade, como os seguidores de Cristo só poderiam se redimir através do canal sagrado estabelecido – a Igreja Católica Romana.

Sophie olhou para Langdon, e ele meneou a cabeça de leve, confirmando as palavras do amigo.

- Tudo não passou de uma disputa de poder – continuou Teabing. - Cristo, como o Messias, era fundamental para o funcionamento da Igreja e do Estado. Muitos estudiosos alegam que a Igreja Católica Romana literalmente roubou Jesus de seus seguidores originais, sufocando sua mensagem humana ao envolvê-la em um manto impenetrável de divindade e usando-a para expandir seu próprio poder. Já escrevi diversos livros sobre isso.

- Imagino que os cristãos devotos mandem mensagens de protesto para o senhor todos os dias, não?

- Por que fariam isso? – contra-argumentou Teabing. A vasta maioria de cristãos educados já conhece a história de sua fé. Jesus foi mesmo um homem grande e poderoso, As ardilosas manobras políticas de Constantino não diminuíram a majestade da vida de Cristo. Ninguém aqui está dizendo que Cristo foi uma fraude, nem negando que Ele tenha passado pela Terra e inspirado milhões de pessoas a levar vidas melhores. Só estamos afirmando que Constantino tirou vantagem da substancial influência e importância de Cristo. E, ao fazer isso, moldou a face da cristandade como a conhecemos hoje em dia.

Sophie olhou o livro de arte diante de si, ansiosa para prosseguir e ver a tal pintura que Da Vinci havia feito do Santo Graal.

- O problema é o seguinte – disse Teabing, agora falando mais depressa. – Como Constantino promoveu Jesus a divindade quase quatro séculos depois da sua morte, existem milhares de documentos contendo crônicas da vida Dele como homem mortal. Para reescrever os livros de história, Constantino sabia que ia precisar tomar uma iniciativa ousada. Surgia naquele momento o fato crucial para a história cristã. – Teabing parou, olhando para Sophie. - Constantino mandou fazer uma Bíblia novinha em folha, que omitia os evangelhos que falavam do aspecto humano de Cristo e enfatizava aqueles que o tratavam como divino. Os evangelhos anteriores foram considerados heréticos, reunidos e queimados.

- Uma observação interessante – acrescentou Langdon. - Qualquer pessoa que escolhesse os evangelhos proibidos em vez da versão de Constantino era considerada herege. A palavra herege vem desse momento histórico. A palavra latina hereticus significa “escolha”. Aqueles que “escolheram” a história original de Cristo foram os primeiros hereges do mundo.

- Felizmente para os historiadores – disse Teabing -, conseguiram-se preservar alguns evangelhos que Constantino tentou erradicar. Os manuscritos do Mar Morto foram encontrados na década de 50, escondidos em uma caverna perto de Qumran, no deserto da Judéia. E, naturalmente, haviam sido encontrados os manuscritos coptas em 1945, em Nag Hammadi. Além de contarem a verdadeira história do Graal, esses documentos falam do ministério de Cristo em termos muito humanos.

- Naturalmente, o Vaticano mantendo sua tradição de enganar os fiéis, tentou com todas as forças evitar que esses manuscritos fossem divulgados. E por quê? Acontece que os manuscritos apontam certas discrepâncias e invencionices históricas, confirmando claramente que a Bíblia moderna foi compilada e revisada por homens com um objetivo político - promover a divindade de Jesus Cristo e usar Sua influência para solidificar a própria base de poder desses mesmos homens.

- E mesmo assim – contra-argumentou Langdon – é importante lembrar o desejo da Igreja moderna de suprimir esses documentos vem de uma crença sincera em sua visão estabelecida em Cristo. O Vaticano é composto de homens profundamente piedosos que de fato acreditam que esses documentos controvertidos só podem constituir um falso testemunho.

Teabing riu com desdém ao sentar na sua poltrona diante de Sophie. - Como pode ver, nosso professor tem uma queda por Roma,ao contrário de mim. No entanto, ele tem razão quando diz que o clero de hoje acredita que esses documentos que contradizem a divindade de [Jesus] Cristo são um falso testemunho. É compreensível. A Bíblia de Constantino vem sendo considerada verdadeira para eles há milênios. Não há ninguém mais doutrinado do que o próprio doutrinador.

- O que ele está querendo dizer – completou Langdon – é que adoramos os deuses de nossos pais.

- O que estou querendo dizer – replicou Teabing – é que quase tudo o que nossos pais nos ensinaram sobre Jesus Cristo é mentira. Assim como as histórias sobre o Santo Graal.

Sophie tornou a olhar para a citação de Da Vinci diante de si.‘Cegante ignorância nos ilude. Ó miseráveis mortais, abri os olhos!’

Teabing estendeu o braço para olivro e virou as páginas até chegar ao meio. -Finalmente, antes de lhe mostrar as pinturas que Da Vinci fez do Santo Graal, gostaria que desse uma espiada rápida nisso aqui. Abriu o livro emuma figura colorida que tomava as duas páginas. - Presumo que conheça esse afresco, não?

- Ele deve estar brincando! Sophie olhou espantada o mais famoso afresco de todos os tempos - ‘A ÚltimaCeia’ -, a lendária pintura de DaVinci, retirada da parede de Santa Maria de le Grazie, em Milão. O afresco, já meio descascado, mostrava Jesus e os discípulos no momento em que anuncia que um deles iria traí-lo.

- Conheço esse afresco, sim.

- Então talvez me permita fazer um joguinho com você? Feche os olhos, por favor. Meio desconfiada, Sophie fechou os olhos.

- Onde Jesus está sentado? – indagou Teabing. - No meio.

– Excelente. E o que Jesus e os discípulos estão partindo e comendo? - Pão. É claro.

- Isso mesmo. E o que estão bebendo? – Vinho. Bebiam vinho.

– Ótimo. Agora, só mais uma perguntinha. Quantos copos estão sobre a mesa? Sophie fez uma pausa percebendo que era uma pergunta capciosa… E, depois da ceia, Jesus tomou o cálice e o deu a seus discípulos.

- Um só – respondeu. – O cálice. – O Cálice de Cristo. O Santo Graal. – Jesus passou a todos um único cálice de vinho, assim como os cristãos fazem hoje em dia, na comunhão.

Teabing suspirou: - Abra os olhos. Ela abriu. Teabing sorria presunçoso. Sophie olhou a pintura,vendo para espanto seu que todos na mesa dinham uma taça diante de si, inclusive Cristo [Jesus]. Treze taças.Ainda por cima, minúsculas, sem haste, e feitas de vidro. Não havia nenhum cálice.Nenhum Santo Graal. Os olhos de Teabing faiscaram:- Meio esquisito, não acha? Considerando-se que tanto a Bíblia quanto a lenda padronizada do Graal celebram esse momento como o advento definitivo do Santo Graal. Estranhamente,DaVinci parece ter se esquecido de pintar o Cálice de Cristo.

- Sem dúvida, os estudiosos de arte devem ter notado isso.

– Vai ficar chocada ao saber quantas anomalias Da Vinci incluiu aqui que a maioria dos estudiosos nem vê ou simplesmente resolve ignorar. Esse afresco, na verdade, é a chave para todo o mistério do Santo Graal. Da Vinci mostra tudo aqui mesmo, na Última Ceia.

Sophie examinou o afresco com avidez: - Esse afresco nos diz o que o Graal realmene é?

- Não o que ele é – sussurrou Teabing -, mas quem ele é. O Santo Graal não é um objeto. Na verdade… Trata-se de uma pessoa.

Sophie ficou olhando para Teabing durante longos instantes e depois voltou-se para Langdon. - O Graal é uma pessoa?

Langdon assentiu.- Na verdade, uma mulher. E pelo olhar inexpressivo no rosto de Sophie,Langdon viu que haviam conseguido deixá-la desorientada.Lembrou-se de sua reação semelhante na primeira vez que ouviu essa afirmação. Apenas quando ele entendeu a simbologia por trás do Graal é que a conexão com uma mulher tornou-se clara para ele.

Teabing parecia ter compreendido a mesma coisa.- Robert será que não seria hora de um simbologista dar uma explicação?


– ‘O cálice’ – disse Langdon – ‘lembra um copo, ou receptáculo, e, o mais importante, lembra o formato de um útero feminino. Esse símbolo transmite a idéia de feminilidade, maturidade da mulher e fertilidade’.

Langdon olhava firmemente nos olhos dela agora. – ‘Sophie, a lenda nos diz que o Santo Graal é um cálice – uma taça. Mas a descrição do Graal como cálice na verdade é uma alegoria para proteger a sua verdadeira natureza. Ou seja, a lenda usa o cálice como metáfora para uma coisa muito mais importante’.

- Uma mulher - disse Sophie.

- Exato. Langdon sorriu. - O Graal é literalmente o símbolo antigo da feminilidade, e o Santo Graal representa o sagrado feminino e a deusa, o que, naturalmente, se perdeu nos dias de hoje, praticamente eliminado pela igreja. O poder da mulher e sua capacidade de gerar vida já foi muito sagrado, mas ameaçava a ascensão da Igreja Católica predominantemente masculina, de forma que o sagrado feminino foi demonizado e considerado impuro. Foi o homem, e não Deus, que criou o conceito de “pecado original”, mediante o qual Eva provou da maçã e causou a queda da raça humana. A mulher, que antes era considerada sagrada, porque dava a vida, agora era o inimigo.

- Eu devia acrescentar - interveio Teabing - que esse conceito de mulher como aquela que dá a vida foi a base da religião antiga. O nascimento de uma criança era um evento místico e poderoso. Lamentavelmente, a filosofia cristã decidiu fraudar o poder criador da mulher, ignorando a verdade biológica e tornando o homem Criador. O Gênesis nos diz queEva nasceu da costela de Adão. A mulher setornou uma ramificação do homem. E, ainda por cima, pecaminosa. O Gênesis foi o início do fim para a deusa.

- O Graal - disse Langdon - simboliza a deusa perdida. Quando o cristianismo surgiu, as velhas religiões pagãs não morreram com facilidade. Lendas de buscas de cavaleiros pelo Graal perdido eram na verdade histórias sobre buscas proibidas do sagrado feminino. Cavaleiros que alegavam estar “procurando o cálice” estavam usando um código para se protetgerem da Igreja, que havia subjugado as mulheres, banido a deusa, queimado os hereges e proibido a adoração ao sagrado feminino pelos pagãos.

Sophie sacudiu a cabeça. - Desculpe, mas quando disse que o SantoGraal era uma pessoa, pensei que estava querendo dizr que era uma pessoa de fato.

- E é - disse Langdon.

-E não é qualquer pessoa - deixou escapar Teabing, pondo-se de pé de um pulo, entusiasmado. Uma mulher que trazia consigo um segredo tão poderoso que, se revelado, ameaçava destruir os próprios alicerces do cristianismo [católico].

Sophie estava desnorteada. - E essa mulher é bem conhecida na história?

- Bastante. - Teabing pegou as muletas e dirigiu-se ao corredor. - Se vierem comigo ao meu gabinete, meus amigos, eu terei a honra de lhes mostrar o retrato que Da Vinci pintou dela… [®]

[Cf. ‘O Código Da Vinci’, capítulos, 55 e 56. Editora Sextante].





1 comentário
jeane paula disse,
Junho 23, 2008 at 9:58 am

perdão por discorda mas total é uma barbaridade colocar a minima duvida da divindade de Cristo realmente Ele não manteve nenhum relacionamento com Maria Madalena e se tivesse a linhagem real de Jesus, os senhores acham que até o priorado de sião conseguiriam encobrir, amei o livro mas desculpe para min a Biblia está sobre todas as coisas certo que a ela foi modificada mas com a ajuda dos martires consegui-se manter alguns exemplares inalterados como a divindade de Cristo,a mensagem do sábado e o santuário.Muito obrigado por abrir este espaço para que possamos colocar nossa opinião.

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